Publicado em: 01/12/2020
Recentemente, li o livro “super-humanos” de Steven Kotler. E eu realmente esperava encontrar histórias sobre superpoderes e suas responsabilidades inerentes a todo o bem ou todo o mal que tais super-habilidades poderiam fazer a favor ou contra a humanidade.
Para minha feliz surpresa, o que encontrei foram humanos que encontraram suas vocações, ou verdadeiras vontades, e que ao longo dos dias, meses e anos, iam competindo consigo mesmos em busca de se superarem seja em performance, ou no tempo, ou na sutileza em perceber os mínimos detalhes, que fazem a diferença e que são imperceptíveis aos olhos menos acostumados ou desavisados.
O livro relata a saga deste autor em busca de entender como funciona o cérebro e o corpo de tais atletas.
O ser humano agindo como humano buscando se melhorar continuamente.
Kotler, em sua busca, passou por muitas etapas esmiuçando o que estava por trás de tamanhas façanhas.
Não meus amigos, o objetivo não era a perfeição, mas a expansão do Eu em forma de êxtase. Êxtase que dava a sensação de propósito. Aquele propósito que dá significado à vida. O autor usa outras palavras como sensação de autoconsciência, perda momentânea do tempo e equilíbrio entre habilidade e o desafio.
Interessante observar que o – estado de fluxo – nada mais é que o treinamento contínuo e gradual de algo que se quer saber fazer.
E neste ponto, todos somos iguais: estamos em busca deste progresso, desta evolução, desta melhoria contínua diária. Um auto desafio contínuo: se eu consegui andar 1 km hoje, amanha quero andar 1,5km e ir aumentando gradativamente o meu trajeto e aumentar metas diárias, semanais, mensais.
Desafiar-se e conseguir atingir uma meta mesmo que ínfima, trás a sensação de poder, de conexão com o universo, de estar com as rédeas do próprio destino em mãos.
O estado de fluxo exige 100% da nossa atenção. A atenção no aqui e no agora. A atenção no presente, onde foco e concentração se unem em busca de um fim comum.
O estado de fluxo é uma estratégia de tomada de decisões feita a cada passo dado. Decisões que passam por seis passos: o primeiro é saber o que se quer, a base. O segundo é a análise de resolução de problemas, como vou alcançar o que quero, que caminho seguir? O terceiro é a pré-ação, onde a primeira ação é decidida e ensaia-se a ação. O quarto passo é a ação: a mão na massa, o realizar, o fazer. O quinto passo é a pós-ação. O que fazer depois, a manutenção. E o último passo é conferir a base e reiniciar o processo aumentando o objetivo ou regredindo até que se encontre um ponto que seja o início da jornada.
Pode ser que alguns achem que seja apenas uma forma bonitinha de descrever a criação de um hábito. Mas vai mais além, porque tem metas claras, um objetivo a ser atingido. Objetivo não estático, que evolui conforme o processo vai evoluindo. A ideia é nunca parar.
O autor ainda analisa os super-humanos através das conexões neurais e constatou que a repetição de um determinado caminho (sinapses), faz com que tais caminhos se fortaleçam. E eu vou mais além, eles podem se tornar automáticos, que é quando a gente se distrai e o corpo segue com a tarefa sem que percebamos e quando lembramos que estamos fazendo algo, este algo já acabou. Um exemplo clássico é dirigir o carro e seguir pelo mesmo caminho sempre. Num dado momento este trajeto se torna automático, então, a gente se distrai, mas chega são e salvo no destino, seja ele qual for.
A vida é um eterno estado de fluxo para quem busca se melhorar continuamente e a cada dia e a cada tomada de decisão.
A pandemia fez com que o ser humano criasse formas de sobreviver, como a água cria seu curso conforme vai trilhando seu caminho até o mar. Não há volta. Esta geração de seres vivos foi afetada e estamos aprendendo a respeitar valores perdidos no tempo, a nos olharmos com novos olhos sem máscaras e mais conscientes de nós mesmos.
A forma como criamos nossos hábitos também mudou. A criação de hábitos temporários parece não fazer mais sentido, porque o mundo mudou. O ser humano também.
O estado de fluxo é uma opção de continuidade que pode gerar um conforto interno, que produzirá uma sensação de segurança e de estarmos no caminho certo por estarmos fazendo algo que nos preenche a cada dia mais.
Obrigada por me lerem.
Fonte: Métodos ágeis