Publicado em: 07/10/2016
Na minha infância, sempre que eu me sentia perdida, quando me deitava na cama, depois das orações, eu dormia e sonhava que estava num porto antigo, com nuvens rosadas e o sol descendo no horizonte. Lembro da brisa morna e do som do mar. Consigo sentir o cheiro da maresia. Eu sempre me sentava na borda e observava o movimento do mar... Indo e vindo... Um movimento sereno que acabava por me acalmar.
Esta sensação de estar sem chão, de não saber o que fazer, de não entender nada do que estava acontecendo. Ouvir e ver além do que estava sendo dito é o que senti quando fui dispensada.
Estamos vivendo uma crise mundial. Fato!
Mas eu havia feito o meu dever de casa, havia concluído com sucesso, segundo o cliente, o projeto, depois de ajustes que sempre existem quando o produto desenvolvido é implantado e começa a ser usado pelo cliente.
Passado o susto e a nova realidade em minha vida, parei e pensei em toda a minha trajetória profissional vivida na última empresa. Tive bons desafios, dei o meu melhor, fiz acontecer, eu me empenhei, busquei informação, fiz meu trabalho com toda a atenção, carinho e amor. Porque desenvolver produtos que atendam a necessidade do cliente é o que me prende e me faz ter certeza de que estou no lugar certo, na hora certa e atendendo ao cliente certo.
E depois de elogios por conta de um projeto grande, sou dispensada?
Claro que o primeiro momento é o choque. E sei que muitos dos profissionais que foram demitidos depois do sucesso de um projeto passaram por um choque como o meu.
Num segundo momento, veio a raiva de ter sido jogada numa situação que a cultura brasileira massacra. Sei que é apenas uma fase, mas é como se eu tivesse uma doença contagiosa e a dignidade vai embora, os pseudo amigos desaparecem, a família acha que vou pedir ajuda a qualquer momento e passa a menosprezar, a olhar com olhos de coitadinho e tudo o mais que sabemos que acontece com quem não esta empregado.
Venci o susto, a raiva e a sensação indignidade interna.
Entender que o estar disponível (desemprego) é apenas uma fase da vida profissional e que isso pode e vai acontecer algumas vezes durante o percurso de minha carreira foi algo necessário para conseguir seguir adiante com a cabeça erguida. E com a certeza de que a próxima empresa será melhor que a anterior. Que eu cumpri o meu papel na última empresa da melhor forma que o meu melhor proporcionou e que preciso seguir adiante. O que significa desvencilhar de sentimentos e energias pertencentes à última empresa, o que os profissionais de humanas chamam de bolhas ou células.
Assim que coloquei a cabeça no lugar, comecei a enviar currículos nos sites de emprego. Descobri ao longo do processo que muitas vagas eram fictícias e me desliguei dos sites que estavam fazendo isso. Por ser antiético e cruel com todas as pessoas que se candidataram sem saber que não havia vaga alguma.
Entrei em sites de empresas de desenvolvimento de software e me cadastrei. Pesquisei, li artigos, refiz o meu currículo tantas vezes e ainda não consegui a tão sonhada recolocação que vai acontecer a qualquer momento.
Então, decidi estudar e entender tudo o que o mercado tem exigido e que eu não tenho a menor noção de como funciona. Assim como decidi estudar linguagens que são as mais pedidas pelo mercado atual.
Amo desenvolver produtos seja na web, em mobile/android ou mesmo dar continuidade ao produto que o cliente tenha em sua empresa. É o que gosto de fazer, é o que me prende a atenção e é o que tenho foco, disposição e alegria em fazer.
Mas como uma boa analista de sistemas que entra para a empresa e se empenha em desenvolver seu trabalho dando o seu melhor, peco por um item importantíssimo: não tenho contatos. Não fiz contatos. Mesmo porque estar empenhada em algo toma tempo.
Tive que vencer a ideia errônea de que fazer marketing pessoal era cometer o pecado da soberba, era ser narcisista e novamente refiz meu currículo. Mesmo porque, se eu não contar ao mundo do que sou capaz, o que sei fazer, o que estou buscando e a minha disposição em trabalhar, aprender fazendo, ninguém vai saber e nem vai se interessar pelo meu currículo.
Ainda não fiz entrevistas pessoalmente, mas tive feedback de algumas vagas e todos os profissionais de RH que me retornaram me deram a certeza de que estou no caminho certo, porque estou buscando me recolocar no que sei fazer, no que gosto de fazer e no que dinheiro nenhum no mundo vai me fazer parar de fazer. Mas que meu perfil não se encaixou na vaga ou algum outro motivo eliminatório.
Agradeço a cada um deles: percebi que são profissionais que respeitam os candidatos acima de qualquer política que possa existir referente a não dar feedback algum.
Nesta minha busca diária, mantenho um blog e um site de EAD, tudo com muita calma, com muito cuidado e com muita atenção. Claro que tinha que envolver programar, montar, pensar, desenvolver e aprender.
Sei também que muitos estão nesta situação. E estou compartilhando a minha vivência para que todos os profissionais que não estão recolocados saibam que não estão sozinhos em suas dúvidas e questionamentos, para que eles saibam que devem seguir seus corações e continuarem a procurar uma recolocação dentro daquilo que eles amem fazer. Não existe perfil profissional certo ou errado, adequado ou inadequado. O que existe é você se encaixar no que a empresa esta buscando. E se você não se encaixou ao que o perfil exigia, não se martirize. A adaptação seria herculínea (existe esta palavra sim).
Existem vagas para todos, o país é grande e esta faltando profissionais em muitas áreas. O que esta acontecendo é que ainda não encontramos a empresa que tem a vaga em que vamos nos encaixar e que poderemos desenvolver algo que seja bom para todos.
Porque não faz sentido arrumar emprego apenas para pagar contas.
Não faz sentido criarem vagas fictícias para contratarem pessoas predeterminadas, para maquiar um processo que a empresa exija.
Não faz sentido o RH não dar retorno a cada candidato.
Este compromisso de transformação diário, de busca de conhecimento, de renovação da fé em si mesmo, da certeza de que esta fase esta acabando e que é apenas uma fase, é o que tem que ficar na cabeça de cada um de nós: Levantar, respirar fundo, sorrir para o dia e se preparar para o melhor.
Obrigada por me lerem.
Fonte: Pessoas