Publicado em: 02/04/2024
Reza a lenda de todos os panteões, mitologias e crenças humanas que o universo, este que conhecemos – o que não é necessariamente o único, preciso ou definitivo – surgiu aleatoriamente ou por vontade divina. E todas elas falam sobre um atrito entre duas forças, que causou uma explosão que deu início a este universo...
Nesta lenda, primeiro veio o nada, o ZERO, o céu anterior, o vazio em sua latência, o imanifesto querendo ser algo... E da latência do zero surge o UM, o céu posterior, algo que nasceu, manifestou, com um potencial gigantesco de ser sem restrições ou parcimônia.
E da grandeza da explosão do UM, com seu movimento ritmado e contínuo, mesclando o calor e frio, surge o DOIS, uma tentativa de organizar as energias complementares que se agrupam por afinidade, vibração e ritmo. O conceito do Yin-Yang, cujas energias se complementam interagindo consciente e constantemente.
O branco expansivo (yang maior) que contém a semente do negro (yin menor) cuja função é fixar a permanência da expansão, funcionando como ponto de apoio, tal qual o cruzeiro do sul, construção capaz de sustentar um cemitério, ou uma terra santa. A pedra angular que sustenta um prédio...
O negro da restrição organizadora (yin maior), que contém a semente do branco (yang menor), cuja função é manter o fixo em movimento lento e ritmado. Como a brisa percorrendo em todos os lugares, avisando que tudo tem sua hora, sua duração e sua finalidade. Nada é pra sempre. E tudo é nada e nada é tudo. Um ponto norte de direção, onde as forças se convergem, se tocam e se alimentam a si mesmas, fortalecendo seus pontos e seguindo seu ciclo em espiral. O zero, o um, o dez, o cem... momentos em que a energia assume suas diversas nuanças, ora sendo um querer, um pensamento, uma cor, um movimento, um som, uma ação, uma luz.
Dentro deste conceito de dualidade, surge o conceito binário do zero/um. Onde o primeiro é o vazio, a luz apagada (o recipiente organizador e pega apenas o necessário para existir) e, o segundo: a luz acesa, a energia infinita, abundante, que abraça tudo e todos.
Trazendo esta dualidade para o que conhecemos como par e ímpar, temos o seguinte cenário: a energia par é estável, fixa, restritiva e organizadora; e, a ímpar: instável, móvel, expansiva e abrangente.
Assim, para fazer magia deve-se pensar no que se quer. Entender onde se está e o que é necessário para se atingir o que se quer. Algumas perguntas devem ser levadas em consideração como: movimentar ou fixar a energia? É algo que deve permanecer ou fluir? Qual orixá possui a energia que tornará possível a concretização deste pedido? Quais elementos usar? Qual a frequência? Quais ferramentas? É algo que deve desacelerar ou acelerar (direção do giro: esquerda ou direita)?
E as perguntas não param aí, já que o ideal é analisar o cenário atual e entender para onde o barco em que se esta está indo, para onde se quer ir e que decisões devem ser tomadas para que se atinja o que se quer... Acaba que tudo se resume a buscas: buscas que perseguem a felicidade, bem-estar e estar bem, baseados em conceitos da imagem mental do que sejam a felicidade e o bem-estar.
Ainda dentro deste conceito binário e matemático, existem duas linhas de ação prática, baseadas em egrégoras e saberes que caminham em paralelo: a matemática dos números herméticos e a matemática ancestral da leitura dos búzios.
Na leitura de búzios, cada orixá tem seu número específico e definido conforme a nação com seus fundamentos, que a pessoa leitora dos búzios siga.
Dentro da magia hermética cabalística, cada orixá habita uma esfera específica, possuindo seu próprio número.
Ambos coexistem e funcionam dentro de suas engrenagens internas.
E para a energia, pouco importa qual egrégora usar, ela responde, ela toma conta e presta conta. Ela usa o caminho mais fácil e mais lógico. Dentro da lógica dela que independe da visão individual de mundo e da lógica interna e pessoal. Porque ela é abrangente e a visão interna do indivíduo é sempre um pedacinho do todo.
O importante é saber a quem recorrer. E entender que tudo está em movimento. Que a energia yin possui o potencial da energia yang, assim como a energia yang também possui o potencial da energia yin. E mesmo que algo pareça estar parado, ele está em movimento. E algo que parece estar em movimento, possui um ponto de permanência dentro de si, uma quietude que o fixa e o torna permanente dentro de seu ciclo de existência.
ELEMENTOS
Felizmente, em nossa dimensão, conseguimos utilizar os quatro elementos sozinhos ou combinados. Conhecer suas combinações é um processo lento. Entender como funcionam e qual a quantidade usar faz parte do aprendizado. É como cozinhar e temperar os alimentos.
Pós, cheiros, essências oleosas, defumadores e incensos representam o elemento ar, que são ativados com o sopro, com o calor, com a água.
O fogo ativa, inicia e é o ponto de partida para quase todas as magias através da vela, da fogueira, da explosão da pólvora. E, combinado com outro elemento, é capaz de aquecer, pulverizar, desintegrar, limpar.
A água limpa, flui, permanece, absorve e leva embora a energia que não deve permanecer.
A terra é representada por pós, pedras, cristais, sal, alimentos. Tem a capacidade de limpar, fixar, potencializar, sustentar.
As plantas representam dois elementos: ar e terra. E, se combinados, pode-se usar os quatro elementos ao mesmo tempo.
De todos os elementos, gosto do café, que possui os 4 elementos: é pó (terra) forjado no fogo, que passa pela água transformando-se em bebida, cuja fumaça é o ar que preenche o ambiente com seu cheiro característico. Trata-se de um elemento coringa, no meu entender.
Pontos riscados, mandalas, gráficos radiestésicos, visualizações, orações e meditação também fazem parte do processo magístico. E não devem ser esquecidos, pois ajudam a firmar o pensamento deste querer.
O importante é entender que se deve usar o que se tem em casa. Afinal, a energia permeia tudo e todos.
Sim, existem magias que têm a função de corrigir o curso do barco e que aparentam não representar o querer humano, porém, não deixam de ser um querer humano de que tudo deveria dar certo. Este “dar certo” é um conceito em construção. Já que tudo dá certo, seja para o bem ou para o mal. Assim, ou se tem vitória e conquista, ou se tem aprendizado e correção de conduta, mesmo que a pessoa não entenda o resultado da magia.
CÓDIGO DECIMAL DENTRO DA TRADIÇÃO HERMÉTICA
A árvore da vida possui dez esferas e seus vinte e dois caminhos, dois deles em posições diferentes conforme o autor: ARIZAL X RAMAK. Nesta explicação, não serão abordados os 22 caminhos.
O potencial zero surge como o nada, o vazio. E está acima da primeira esfera.
Uma vez que a energia se manifesta, ela ocupa a esfera de KETHER (UM – Netuno) – a semente da vontade, representada pelos IBEJIS, a semente com seu potencial de crescimento, o ponto inicial, o um, o início de qualquer coisa. A esfera do milagre, do querer.
Como primeira mãe, que recebe esta semente, surge a esfera HOCHMAN (DOIS – Urano) – formação da imagem, representada por Iansã, a esfera da sabedoria. A mãe organizadora, o recipiente que desenvolve a energia primordial com seus movimentos do ar e da água (vento e chuva).
Uma vez que o pensamento (energia) se organize e se torne entendível, a energia vai para a esfera de BINAH (TRÊS – Saturno) – verbalização/forma, o entendimento, representado pelo orixá Xangô. Xangô das rochas e pedras, que solidifica o pensamento, segundo a verdade de Deus.
Seguindo a descida da árvore da vida, existe um véu a ser vencido, com uma esfera invisível chamada de DAATH (Plutão), a esfera de Nanã. É a esfera do abismo, do deserto que separa o mundo espiritual do mundo em que habitamos. Deserto presente nos panteões como o egípcio, o nórdico e o grego, com seu barqueiro, ora navegando em águas enlameadas, ora em mar de areia, levando os espíritos ao seu destino pós-morte. Esta esfera não tem número e representa um caminho, um mundo a ser vencido para que a jornada continue.
Descendo pela árvore da vida, a energia entra na esfera de CHESED (QUATRO – Júpiter): a abundancia incondicional, representado pelo orixá Oxóssi. Oxóssi das matas (plantas e animais), do amor e da bondade.
A próxima esfera é GEBURAH (CINCO – Marte): o rigor, representada por Ogum, a energia recebe a FORÇA da potência, que tornará possível a manifestação do que foi pedido. É neste momento que se deve intensificar a disciplina para se atingir o que se quer.
A energia continua descendo e chega à esfera TIFERETH (SEIS – Sol): é o sentir que merece o que se quer, representada por Oxalá, a compaixão, a meditação. Existe um véu abaixo desta esfera a ser vencido. Véu que aniquila a dualidade da razão (exu) X emoção (oxum) e cujas energias devem ser integradas e equilibradas.
A esfera de NETZACH (SETE – Vênus) – permanência, é a esfera de Oxum, que fortalece a vontade da concretização do que se quer – é a esfera onde o que se quer deve ser carregado da emoção do pedido realizado. Ter certeza do que se quer e sentir que já o tem.
Uma vez, que o desejo foi carregado da emoção, a energia segue para a concretização do pensamento, do raciocínio, da razão e entra em HOD (OITO – Mercúrio) – refinamento, a esfera do orixá Exu, que abre os caminhos e refina a energia para que ela se manifeste nesta dimensão – é o momento de moldar, ou colocar no molde o que se quer. É onde a forma se manifesta e o pedido começa a concretizar, o recipiente de HOD recebe a emoção de NETZACH. O pedido ganha uma forma e um direcionamento.
A energia sai de HOD e entra na esfera de YESOD (NOVE – Lua) – propósito. É onde acontece o preenchimento do vazio interior, Iemanjá com suas águas e força, ajuda a vencer o véu da ilusão, da preguiça e do medo; e oficializa o que se quer no papel. Um contrato, um desenho de um protótipo a ser construído e concretizado em Malkut, é o último passo antes de concretizar e trazer para a dimensão dos humanos o que se está buscando.
Finalmente, a energia chega ao seu destino MALKUT (DEZ – Terra) – manifestação do objeto, representada por Xapanã (Obaluaiê/Omolu/Oxumaré), é a manifestação do foi pedido. Uma vez realizado, o pedido sai do ciclo da árvore da vida. E entra no ciclo ação/reação, produzindo raízes e frutos deste pedido.
A MATEMÁTICA
Usar a matemática para fazer magia requer o entendimento do significado dos números binários, decimais, ângulos e horários.
Entender que números pares são os números que devem ser usados para se manter algo e que os números ímpares são os números que devem ser usados para que a energia gire e não permaneça, faz toda diferença no resultado final. Usar este conceito básico e o combinar com o número do orixá, que possui a sapiência capaz de concretizar o que foi pedido, facilita o processo de magia.
Pensar magia não é um processo simples. Mas se torna simples, quando pensado por etapas, particionando e fazendo com que cada etapa seja feita de forma consciente.
Entender que nossos mentores estão torcendo para que vençamos as provas que a vida nos proporciona, que todos os orixás nos querem para si, pois somos o resultado do que eles projetaram, que o ato de pensar por conta própria é a maior revolução que podemos fazer por nós mesmos e pela humanidade, faz com que a magia tenha uma função e faça todo sentido em existir para nos servir.
Cada conhecimento adquirido ajuda a humanidade sair desta dormência de milênios. Mesmo que seja uma única pessoa pensando.
Estamos todos no mesmo barco, entretanto, somente alguns estão acordados e vendo para onde estamos indo, modificando e mexendo nas velas deste navio chamado vida.
Obrigada por me ler.
Andréa.