Publicado em: 15/12/2024
O tema que eu escolhi para hoje é a ritualística diária.
O ser humano sempre busca algum tipo de ritual que lhe dê a sensação ilusória de segurança. Assim, repetir ações todo dia no mesmo horário, pode proporcionar uma sensação de bem-estar, de permanência, de constância, de ritmo lento e de estabilidade.
O fato é que a única “coisa” permanente na vida é a impermanência. O que não significa que criar hábitos seja algo ruim.
Devemos lembrar que esta impermanência é a maior virtude e o maior defeito da senhora Vida. Porque quando a gente pensa que não, tudo muda. E muda porque precisamos evoluir. Assim, não há como fugir dela.
Mas o que é um hábito? Um hábito é uma maneira de agir amiúde, é um comportamento que se tornou automático por ser repetido frequentemente no dia a dia.
E o que ele tem de bom? Ele é bom quando melhora a vida da pessoa, quando traz a sensação de bem-estar, quando acalma a pessoa, quando traz um progresso diário, mesmo que seja 0.01% por dia. Aquela equação (0,01)365 = 37,7. Melhorar todo dia é bom. Claro, existem os dias em que não há melhora, mas isso também faz parte da evolução.
Estudar uma língua todo dia por alguns minutos, ao longo do mês, a pessoa terá aprendido algo novo, terá exercitado o cérebro, alimentando-o com pequenas palavras novas contextualizadas em frases curtas, médias ou grandes. A leitura é também um excelente exercício para o cérebro.
O exercício da fé através da oração, do mantra ou da meditação, também traz benefícios para o ser humano, porque fortalece nosso corpo espiritual e a confiança de que tudo está no lugar certo, na hora certa e no contexto certo (tanto certo, que me lembrou a samsara do budismo) para que possamos reagir aos acontecimentos conforme nossas percepções.
O corpo físico é fortalecido com atitudes diárias, como uma caminhada, banho, escovar os dentes, cuidar do cabelo, dos pés, das mãos, como escolher não comer algo que a pessoa já sabe que lhe faz mal por intolerância alimentícia ou alergia. Escolhas pequenas ou grandes fazem diferença e esta escolha pode se tornar um hábito bom.
O ócio criativo é mágico. E pode ser feito todos os dias no mesmo horário e para qualquer situação em que a resposta para um problema resolva se esconder. As respostas gostam de silêncio, de quietude e nada se mexer para sair e se manifestar.
Mas como um hábito começa? Pra mim, um hábito começa de um desejo, de uma vontade, de um querer. Um querer que cresce e se transforma num pensamento, que cresce e se transforma numa ação. Ação que só se transforma em hábito se ela se une a persistência e ao ritmo diário. É como querer percorrer uma maratona de milhares de quilômetros e começar com o primeiro passo.
Tudo é progresso constante no ritmo da pessoa. E neste passo de cada vez, a vida vai se fazendo, os dias vão passando, a pessoa vai crescendo.
Porém, ninguém gosta de mudar, por medo do desconhecido. Mas o fato é que não temos escolha, quando nos sentimos dentro da nossa zona de conforto, a senhora Vida nos vê e muda tudo. Quando conseguimos respostas para nossas perguntas, as perguntas mudam.
Os hábitos também podem ser ruins, o famoso “vício”. E eles são aqueles que prejudicam a pessoa, como fumar, como reclamar o tempo todo, como comer muito doce ou muito sal. Aliás, tudo o que é muito ou feito em excesso é ruim. É preciso encontrar o meio termo, o equilíbrio.
E dentro deste contexto está o pensamento frequente. Mas esta análise do pensamento frequente possui algumas variáveis como frases impostas pelos pais/tutor na infância, percepções errôneas que acabam por criar imagens mentais distorcidas, medos infundados que também criam imagens mentais distorcidas, sentimentos de menos valia, espíritos malfazejos que ficam repetindo frases até que elas impregnem em nosso cérebro como se fossem pensamentos nossos... e acabamos por fazer algo que sabemos fazer mal, mas a sensação de saciedade, de completude, de bem-estar momentânea traz a ilusão de preenchimento do vazio interno. Sensação que acaba muito rápido e a gente quer vivenciar mais esta sensação e erra de novo.
Tem um outro agravante nesta situação, o “prazer” e o “preenchimento do vazio” fugaz é como se fosse um copo que vai sendo preenchido, preenchido até que se quebra. E quando este copo se quebra, o prazer acaba. É neste momento que a prova começa. Os fios do vício estão bem fortes. E para serem desfeitos, é preciso ir desfazendo cada fio emaranhado, enfraquecendo esta corda, até que ela se torne um pontinho que pode ser apagado, queimado, dissolvido.
Tudo tem um porquê, um pra quê (uma origem), mesmo que não tenhamos consciência dele. E quando descobrimos este porquê e este pra quê, ele é quebrado e o hábito ruim se desfaz, vai embora.
E cada caso é único. Por isso é importante termos amigos que confiamos, que nos ajudem a pensar. Assim como é bem importante fazermos terapia uma vez por semana, ou a cada 15 dias. Para nos entendermos, para que fichas caiam e consigamos nos desfazer de amarras que nos sufocam.
O caminho do autoconhecimento traz benefícios, responsabilidades e alegrias. Ele pode ser trilhado com acompanhamento (ordem iniciáticas, psicólogos, amigos) ou sozinho (analisando as próprias reações a tudo) ... ou apanhando com a senhora Vida que vai tentando nos acordar.
Fico por aqui.
Abraços, cuide-se e fique bem.
Andréa.