Publicado em: 04/03/2025
Sem fugir do tema anterior, que é a estrela de sete pontas e da régua entre a reação instintiva que passa pela emoção e se transforma em sentimento, quero lhe contar a minha visão sobre um ritual judaico que dura 49 dias chamado SEPHIRAH AH ÔMER.
SEPHIRAH é o plural de SEPHIROT (esfera). ÔMER é uma antiga unidade israelita de medida, usada na época do Templo de Jerusalém.
A contagem do ÔMER é um ritual que acontece entre o Pessach (páscoa judaica) e o Shavuot (entrega da Torah – bíblia judaica – no monte Sinai). As datas são móveis. Este ano começa no dia 13 de abril e termina 01 de junho de 2025.
Estes 49 dias constituem uma jornada de autoconhecimento, realização individual e elevação espiritual. Trata-se de meditação referente a sentimentos internos analisados sob a luz da racionalidade, buscando a compreensão deles e os levando para o cotidiano humano. De forma que se consiga identificar a reação instintiva mais rapidamente, modificando-a para que deixe de trazer tristeza e infelicidade. O que me lembrou o estoicismo, filosofia da qual me identifico mais intimamente.
Tais meditações diárias incitam a disciplina e é um momento de reflexão sobre as atitudes do cotidiano e como podemos nos melhorar um pouquinho a cada dia.
A primeira questão é: se você falhar na contagem e na meditação um único dia, você deixa de participar ativamente da energia da egrégora criada pelo ritual. Em outras palavras, a disciplina é fundamental para cumprir os 49 dias com sucesso. Ou seja: falhou um dia, acabou pra você. E você pode até continuar, mas a conexão com esta energia foi cortada e você deixa de receber o benefício da energia deste ritual.
A segunda questão é: toda meditação possui um “para casa” a ser cumprido ao longo dos 49 dias e do ano. E isso é mágico, porque mesmo que você fique em casa quietinho, a lição, a tarefa e o dever de casa chegam até você. Sei disto porque participo deste ritual desde 2010. E a vida faz com que o para casa seja cumprido esteja onde estiver no planeta. Provando que este ritual é tão poderoso que não tem fronteiras, ou idade ou medida do tempo que o pare. Somente o nosso querer interno é capaz de cortar o fluxo desta energia, que uma vez ativada, nos ajuda a sermos melhores hoje do que fomos ontem. E esta energia nos protege nos 49 dias.
Mas o que este ritual de 49 dias tem a ver com a estrela de sete pontas? Tudo!
Cada esfera possui um arcabouço de significados e significantes. E as meditações analisam uma esfera por semana perante a si mesma e às outras esferas. Assim, temos:
CHESED – esfera da bondade – representada por Júpiter. Bondade como a expressão do amor e o seu nível de intensidade.
GUEBURAH – esfera da disciplina – representada por Marte. Disciplina como expressão do respeito e da reverencia. É a força que faz com que caminhemos, com que lutemos e vençamos mais um dia de vida. É a energia nos faz levantar e seguir em frente.
TIFERETH – esfera da compaixão – representada pelo Sol. Compaixão ao se colocar no lugar do outro, compaixão ao cuidar de si mesmo com amorosidade, sem ser condescendente ou duro demais consigo mesmo.
NETZATH – esfera da tolerância – representada por Vênus. Tolerância como energia de continuidade, é o motor (alegria) que nos mantem sempre confiantes.
HOD – esfera da humildade – representada por Mercúrio. Humildade em reconhecer que não somos nem mais e nem menos que o outro, que todos estamos no mesmo barco, porque estamos encarnados nesta dimensão, neste mesmo tempo. Humildade é respeitar o outro e a si mesmo. Humildade é refinar os próprios sentimentos. É compartilhar o aprendizado e aprender o com o outro.
YESOD – esfera do compromisso – representada pela Lua. Compromisso como ferramenta de conexão com Deus e com o outro. É o fundamento que dá base de sustentação a tudo. É a verdade que é a base da confiança e que torna possível o comprometimento na vida e com a vida.
MALKUT – esfera da nobreza – representada pela Terra. É a expressão passiva da dignidade humana. É o senso de pertencer, é saber que se é importante, que faz diferença. É a consciência de si mesmo do momento presente.
A primeira semana analisa a bondade na bondade, a disciplina na bondade, a compaixão na bondade, a tolerância na bondade, a humildade na bondade, o compromisso na bondade, a nobreza na bondade. E o ritual segue sua análise durante sete semanas, sempre nesta ordem, bondade na disciplina, a disciplina na disciplina, a compaixão na disciplina, e assim até terminar os 49 dias com a nobreza na nobreza.
Analisando mais de perto, Bondade é um sentimento raciocinado, é a vontade de receber, na estrela setenária é Júpiter com sua oitava alta na caridade e sua oitava baixa na gula. Caridade como expressão de amor incondicional, com o fazer o bem. Gula como expressão do receber pra si e acumular descontroladamente. É o absorver além da necessidade, é o excesso.
A disciplina é a expressão do rigor de GUEBURÁ. Na estrela setenária é Marte com sua oitava alta na diligência e sua oitava baixa na ira. Diligência como cuidado e presteza na prontidão de fazer algo. É a energia do fazer. Ira como expressão de uma emoção intensa de proteger de uma ameaça, uma reação natural contra o mal que se recebe do outro. É o mau uso da energia da força usada para destruir.
A compaixão é o sentimento raciocinado do se colocar no lugar do outro. Representado pelo Sol, tem sua oitava alta magnanimidade e sua oitava baixa no orgulho. Magnanimidade na expressão da generosidade para com o outro. Orgulho como expressão da arrogância. Cabe aqui o pensar em dois momentos: o orgulho associado à alta autoestima e o orgulho exagerado. O último é o prejudicial. E o orgulho como oitava baixa esta relacionado à frase: “seja feita minha vontade e não a tua”. Claro que com suas ponderações cabíveis e suas devidas análises.
A tolerância é representada por Vênus, com sua oitava alta na temperança e sua oitava baixa na luxúria. A temperança como expressão do equilíbrio, do autocontrole. É a capacidade de controlar os desejos e reações. A luxúria é o desejo incontrolado por prazeres materiais, sensoriais. É o ato de se deixar dominar pelas paixões.
A humildade é representada por Mercúrio, com sua oitava alta na paciência e sua oitava baixa na inveja. Humildade é reconhecer que todos somos iguais que temos a capacidade de aprender e de ensinar. Que não existe hierarquia humana, mas igualdade em todos os sentidos, sem separar gênero, cor ou crenças. A paciência é a expressão da capacidade de não desistir sem perder a calma ou desesperar. A inveja como expressão da ambição desmedida. É o ato de caminhar segundo o passo espiritual de outra pessoa.
O compromisso é representado pela Lua, com sua oitava alta na conexão em seu significado total e a acídia em sua oitava baixa. A conexão é o ligar-se a Deus e ao outro verdadeiramente, sem medos ou amarras da ilusão. Acídia é a expressão da apatia, o não se importar, é a tristeza do bem espiritual.
A nobreza é representada por Saturno, na estrela de Sete Pontas. E, na árvore da vida, é a esfera que está acima de CHESED, depois do véu do abismo, do qual passaremos depois de desencarnarmos. Ele está intimamente ligado à esfera de MALKUT, que concretiza o que Saturno representa. Sua oitava alta é a castidade e sua oitava baixa a avareza. A castidade como expressão da pureza dos sentimentos. E a avareza é a expressão do querer muito, desejar desesperadamente. É o medo de perder o que se tem.
E é isso que este ritual trabalha: entender os próprios sentimentos perante tantos nomes, nomenclaturas, reações instintivas, emoções que precisam ser trabalhadas, trazidas pra luz e resolvidas, transformando-se em sentimentos que nos façam caminhar um dia de cada vez.
Fico por aqui.
Obrigada por me ler.
Abraços, cuide-se e fique bem.
Andréa