Publicado em: 30/06/2025
Não sei como acontecem os entendimentos internos e fases na vida das pessoas, mas tenho a nítida impressão de que eu sou lenta em relação a isso. Às vezes, eu fico travada em alguns processos por dias, semanas e até meses...
Tentarei contextualizar...
Desde a ruptura de processos do meu irmão em 2022 (suicídio), passei por uma série de fases internas e entrei num loop com ciclos de vícios que se intercalavam, tal qual uma cadeira de balanço, que não servia para nada que não fosse ocupar o tempo com algo paralisante, mas com sensação de “aconchego”. Afinal, dormir sendo embalado é muito bom.
O fato é que fiquei presa neste loop por muito tempo. E, para mim, esta tem sido a noite negra da alma mais demorada em toda a minha vida. Confesso que passei por ela na infância, na adolescência, no início da minha vida adulta e agora novamente.
Dizem que esta noite é vivenciada quando entramos na fase de descobrirmos quem somos e o que queremos para a nossa vida. Mas ninguém nos contou que podemos ser jogados para dentro dela pela vida, de uma forma que o único caminho seja enfrentar os bloqueios internos que estão paralisando a nossa vida. Com a esperança de que comecemos a caminhar novamente.
Voltando ao momento de ruptura, eu não percebi que a energia desta ruptura iria me afetar de forma tão avassaladora. E, hoje, penso que eu já estava neste processo interno e que a ruptura apenas apressou tudo.
Assim, fiquei quase três anos perdida, completamente perdida. Vendo uma luz aqui e outra acolá.
E eu achei que era luto com suas cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Mas luto de que? Se não fui eu quem concretizou esta ruptura? E porque esta energia me devorou com tanta força?
Eu apenas segui o fluxo. Eu deixei que os vícios me dominassem. Porque meu coração estava sangrando e minha visão estava turva. Eu não tinha forças para seguir em frente.
E eu questionei tudo. Mas a resposta não vinha. E eu fiquei muito tempo intercalando estes vícios. Parei de ler, de estudar até de orar. Porque não fazia sentido. Eu parei de acreditar em tudo, inclusive em mim. Eu estava sem função, sem amigos, sem perspectiva de vida e, principalmente, a dona Esperança desapareceu. A tristeza fez morada em minha casa. Mas nem ela fazia mais sentido. Nada fazia sentido. Eu já não queria estar aqui. Apenas vivi meus dias sobrevivendo.
Eu não acreditava em mais nada. Porque nada tocava meu coração ou o meu querer.
Não estou contanto isso para que você se compadeça. Mas para entender os processos que eu estava vivendo e que, por um tempo, preenchiam o vazio da alma.
Eu não estava satisfeita com a minha vida, mesmo sabendo que eu tinha tomado as melhores decisões referentes ao que a vida me apresentava.
Sim, eu deixei a vida me levar. E só reagia ao que chegava até mim. Eu era uma massa de reação. Reação esta que me levou até onde estou hoje. Porque eu achava que tinha que ser submissa, que tinha que caber nas expectativas de todos, que para ser aceita, tinha que me sujeitar a me reduzir a pó, a exercer o papel de mosca do cocô do cavalo do bandido.
E fiquei assim, por muito tempo. Até que comecei a pensar novamente de uma outra forma. A vida estava me levando para um caminho que não dava em nada. E eu não queria o nada.
Eu me tornei observadora de mim mesma. Comecei a anotar as minhas reações a tudo. E a analisar de onde vinha cada reação. E se elas resolviam ou complicavam os acontecimentos, gerando mais um vício, mais uma dificuldade, mais um pedra no meu caminho.
Assim, continuei minha busca. Sabendo que este processo fazia parte da minha trajetória. Mesmo não vendo a causa, assistindo o apego ao que eu vinha fazendo todo dia. Buscando cadeiras de balanço cada vez maiores e que prendessem a minha atenção cada vez mais e por mais tempo. Para que o tempo passasse e eu pudesse dormir novamente.
Então, uma pessoa amiga me apresentou um caminho do qual eu havia me afastado. E eu comecei a trilhar este caminho novamente, sem esperança e sem rumo. Porque vi algo ali que tocou no fundo do meu coração.
Seis meses se passaram, algumas coisas boas aconteceram e o travamento apareceu novamente. E eu até penso que ele não tinha ido embora, mas recuado. Não por merecimento ou pelos rituais que eu vinha fazendo, mas porque tudo tem um início, um meio e um fim. O ciclo no qual eu estava e estou inserida precisava deste fôlego para continuar a existir.
E, então, vieram as epifanias. E meus olhos brilharam. Porque vi algumas imagens mentais se desfazendo na minha frente, virando pó e se dissipando.
O ano virou e chegamos a 2025. Conheci algumas pessoas e passei a ir a alguns lugares, onde eu conversei com algumas pessoas desta e da outra dimensão.
Segui o conselho de cada uma, afinal, eles viam algo que eu ainda não via, por estar inserida no processo e meus olhos ainda estarem turvos pela neblina da noite escura.
Comecei a fazer alguns rituais que me orientaram. Rituais que foram limpando a nuvem em volta da minha cabeça. Nuvem da dúvida, do desacreditar, da falta de sentido.
E eu comecei a questionar o que estava por trás de cada vício: imagem mental, faltas, medos? Porque eu estava me escondendo atrás de cada um deles? O que cada um deles queria me dizer? O que eu precisava resolver dentro de mim?
E eu senti vontade real de sair do fundo do poço. Vi as molas jogadas no chão e as calcei. E vi também que a cada subida, haviam caminhos a serem trilhados. Eu precisava me despir da vestimenta do negacionismo em querer ver o que estava me machucando ao ponto de me tirar o chão, a esperança e a vontade de viver.
Então, eu parei. E comecei estudar cada vício. O que cientificamente estaria por trás de cada um deles. O que estava me motivando a me agarrar a cada um deles.
E eu fiz algumas meditações, para entender, para me libertar, para resolver.
E, novamente, algumas fichas caíram e eu resolvi alguns destes vícios, desvinculando-os ao que eles estavam tentando suprir.
Não lutei com eles, mas aceitei sem culpa, sem julgamento. E eu vi a origem de alguns gatilhos e os resolvi. E eles foram embora. Não os vícios, mas as causas. E o vício deixou de ser tão atraente, deixou de fazer sentido e eu parei com eles. Não todos, mas alguns. Abandonando algumas cadeiras de balanço.
Minha cabeça ainda não está boa ou focada o suficiente para que eu saia de um cômodo da casa e vá a outro cômodo me lembrando exatamente o que vim fazer nele.
A vontade de escrever está retornando, assim como a de desenvolver soluções que facilitem a minha vida.
Fisicamente, ou mecanicamente, consertei alguns objetos que precisavam ser consertados dentro de casa.
Na última semana, o maior dos vícios resolveu partir. Eu o agradeci por me entreter por tanto tempo e o deixei ir.
O meu foco está começando a voltar, apesar de ainda não ter forças para o manter o tempo suficiente para que o meu dia seja produtivo, como era antes da ruptura. Mas estou no caminho. Vivendo um dia de cada vez.
Tudo é um processo. Tem dia que estou mais focada, tem outros dias que estou menos focada. Mesmo ainda parando por um longo tempo, apenas pensando. E tentando entender meus processos.
Meu sono melhorou. Os pesadelos estão deixando de me visitar com tanta frequência. Estou voltando aos poucos e isso é uma vitória.
Vitória que merece ser comemorada, para que os caminhos felizes internos sejam reforçados.
Ainda não sei quanto tempo vou levar para me reerguer, mas sei que estou no caminho certo, por que estou abandonando cada cadeira de balanço (vício) que estava ocupando meu tempo todos os dias, de uma forma que as causas sejam resolvidas e dissipadas.
Persistirei neste caminho. Olhando para dentro e me limpando do que ainda está me machucando.
E você, o que você tem feito para se amar mais a cada dia? E para ser uma pessoa mais feliz hoje do que foi ontem?
Fico por aqui.
Obrigada por me ler.
Andréa.