Publicado em: 12/08/2025
Recentemente, eu participei de uma aula presencial de filosofia, onde eu ouvi relatos de outras pessoas referentes às suas próprias vidas e me identifiquei com uma garota em específico com seu relato de suas percepções e reações. Ela falava com uma dor e um medo gigantesco de algo que não deveria incitar medo.
Eu tive quase que as mesmas experiências perceptivas dela, sem a dor e o medo que ela relatou. E isso me fez querer saber mais sobre as crenças e o universo cotidiano em que ela nasceu e cresceu até chegar ali, onde estávamos.
Eu queria entender os medos dela e a origem destes medos. Eu continuei acompanhando o relato, esperando que suas palavras me dessem alguma pista sobre o contexto em que ela viveu e que promoveu tal medo. E eu até entendi um pouco o ponto de vista dela. Pelo histórico de não busca e do sistema de não crença que a estava bloqueando de vivenciar em sua plenitude o que ela estava relatando. O medo estava agindo como um bloqueador interno, manchando uma experiência que deveria ser inusitada, na pior das hipóteses.
Outro ponto que me chamou a atenção no relato dela é que a resposta que ela estava buscando estava ali, mas ela não a via.
O professor começou a conduzi-la através de perguntas, que a fizesse enxergar a resposta que ela estava buscando. Entretanto, ela não entendeu. O clique do entendimento interno não aconteceu. Então, o professor disse que quando este clique acontecesse dentro dela, ela iria entender a resposta.
Às vezes, demoramos mesmo para entender. Às vezes, o clique demora a acontecer. Não que as sinapses internas sejam falhas, ou que nosso raciocínio esteja lento. Mas talvez se trate apenas do nosso tempo interno de compreensão pra tudo.
Eu sou uma destas pessoas que demora um pouco para entender. E não enxergo como falha, mas como um tempo interno mesmo. E penso que esta quantidade de estímulos que recebemos, por conta desta quantidade gigantesca de informação a que somos expostos todo dia, ajude nesta lentidão.
E não é assim que a sabedoria acontece com todo mundo? A resposta só é entendida quando estamos prontos, quando este clique acontece e nos tornamos capazes de ver todo o contexto. Conseguimos até ver os nossos passos andando em círculos até o momento em que o clique interno aconteceu.
O fato é que este processo acontece para qualquer coisa que queiramos aprender.
Voltando ao relato dela, conforme ela foi relatando, eu comecei a entendê-la e a entender algumas frases que o professor falou ao longo do semestre. O que me lembrou e me fez entender aquela afirmação do professor ao dizer que quando encarnamos assinamos um contrato que diz respeito ao local que nascemos (país, estado, cidade, comunidade e família – com suas peculiaridades, crenças e tradições). Esta afirmação começou a fazer todo sentido.
Talvez, se eu não tivesse nascido no Brasil, a minha crença e valores seriam diferentes do que são. Claro que o essencial que norteia o certo e o errado mudaria pouco ou nada. Mas o restante, tudo seria diferente.
Então, eu me dei ao luxo de divagar... Eu me imaginei nascendo nos emirados árabes, na Índia, na Noruega, Escócia e até mesmo no Japão... Histórias de povos diferentes com suas linhas de raciocínio peculiares e seu arcabouço de crenças, tradições e tudo mais... Aprendizados de como reagir, comportar, agir e pensar...
Ela acabou o relato dela e a aula continuou com o relato de outros colegas e até o meu. À noite, na volta pra casa, eu me peguei pensando sobre isso: as provas que estamos vivendo neste momento, as respostas que podem dar uma guinada na vida e que podem modificar a forma como vemos o mundo. E eu me peguei analisando meus bloqueios, os perceptíveis e os imperceptíveis, mas que estão ali presentes. E tudo parte de um mesmo princípio: nossas crenças e tudo o que alimentamos com nossa energia, que damos poder de agir em nós.
O que é que dentro de mim estou dando força para que o que quero não aconteça? É medo? Medo de que? É resistência? Resistência a que? É luta? Estou lutando contra o que? Ou lutando por lutar? Tudo isso me remete à não aceitação da mudança. Eu até tenho uma lista de perguntas que vai diminuindo a resistência. Porém, entre o entender e o sentir existe uma lacuna. E é esta lacuna que venho tentando diminuir para deixar as coisas acontecerem para mim. Para que eu vença cada prova e não a repita mais.
A resistência tem sido um ponto chave de travamento para tudo. Ela tem uma relação muito íntima com medos infundados, com imagens mentais distorcidas, com frases massacrantes impostas ao longo dos anos. Que geram este mecanismo interno que luta pra e contra tudo e todos. E fazemos isso o tempo todo: lutamos mentalmente contra tudo o que achamos que não conseguiremos aprender, adquirir ou conquistar.
A questão é: como eliminar esta resistência do lutar contra?
Existe um método que ando usando e que talvez funcione que é fazer mesmo com medo. É ouvir a resistência e não discutir mentalmente com ela, deixando que ela passe.
Eu tenho me observado e visto esta resistência que tem se manifestado em forma de ações. Ações que preenchem o tempo com nada. E eu parei de lutar contra ela.
E sabe o que tem acontecido? A resistência tem diminuído. Por que ela precisa lutar. E se eu não luto, ela se silencia. E pode até demorar, mas esta foi a melhor forma que encontrei de vencê-la.
E você? Que medos vem enfrentando e como tem enfrentado? Que tipo de estratégia você tem usado para eliminá-lo de vez?
Fico por aqui.
Obrigada por me ler.
Abraços, cuide-se e fique bem.
Andréa.